COMO A FEBRE AMARELA É TRANSMITIDA?

Data de postagem: Jan 31, 2018 12:46:22 AM

Saiba como essa infecção é transmitida entre macacos, mosquitos e seres humanos e por que isso é importante para definir quem deve tomar a vacina

A febre amarela é transmitida por um mosquito infectado por seu vírus. Nas regiões de mata, os insetos dos gêneros Haemagogus ou Sabethes picam macacos com a doença e, então, podem passá-la a seres humanos nas redondezas. É plausível que o Aedes aegypti dissemine a febre amarela nas cidades, mas isso não ocorre há décadas.

Como os macacos pegam febre amarela

Um mosquito infectado dos gêneros Haemagogus ou Sabethes pica um macaco, que então começa a sofrer com a doença. Aí surge o problema: um inseto livre do vírus que chupa o sangue desse primata contaminado passa a carregar o causador da febre amarela. E então pode transmiti-lo para outro macaco, que pode espalhá-lo a outro mosquito…

É, enfim, um círculo vicioso que já ocorre há muitos e muitos anos nas matas brasileiras.

Do bicho para o ser humano

Os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes só circulam por áreas de mata. Agora, se uma pessoa visita uma floresta ou mora perto de outra, por exemplo, pode ser picada por um desses bichinhos infectados. E, aí, corre o risco de ter febre amarela silvestre.

Que fique claro: o macaco não transmite a febre amarela para seres humanos. Ele é tão vítima quanto nós. Matar esses animais só serve para dificultar o trabalho do governo em controlar eventuais surtos como os que estão afligindo São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Urbanização da febre amarela

Antes de tudo, vale destacar que esse fenômeno não ocorre no Brasil desde 1942. Mas do que estamos falando?

É possível que o mosquito Aedes aegypti, comum em diversas cidades brasileiras, pique uma pessoa que voltou de uma região de risco com o vírus da febre amarela no corpo. Diante disso, o Aedes pode armazenar esse agente infeccioso e, então, repassá-lo a outro ser humano que nunca visitou uma região de mata, por exemplo.

Se isso ocorre em larga escala, desenvolvemos um ciclo de multiplicação da febre amarela dentro de cidades grandes. Veja: em vez de termos Haemogogus e Sabethes infectados picando macacos e, eventualmente, um ser humano explorador, passamos a contar com uma horda de Aedes Aegypti disseminando o vírus aos milhares de seres humanos que estão apinhados em metrópoles.

E por que é tão difícil de isso ocorrer? Primeiro, seria necessário um número considerável de seres humanos infectados com febre amarela nas cidades grandes para serem alvejados pela Aedes. Febre amarela: Tire as principais dúvidas sobre a doença

Segundo: o vírus não fica muito tempo no nosso corpo. Ou ele é aniquilado pelo sistema imune ou causa estragos tão graves que nos levam à morte em alguns dias. De qualquer forma, o tempo que esse adversário da saúde fica à disposição do Aedes não é grande.

Além disso, especula-se que esse tipo de mosquito não é um excelente transmissor da febre amarela. Talvez ele não seja um hospedeiro ideal desse inimigo, o que dificulta o espalhamento.

Em outras palavras, só uma população muito grande de insetos conseguiria replicar a doença em seres humanos ao ponto de torná-la endêmica nas cidades grandes.

Some a isso o fato de que alguns habitantes das cidades já estão vacinados – seja por terem ido a uma zona de risco, seja por terem viajado para países em que isso é obrigatório. E, se um mosquito com febre amarela o pica, nada vai acontecer.

É por isso que, no fim das contas, não vemos a febre amarela em centros urbanos com frequência. Mas isso acontece: em 2015, a Angola sofreu uma grave epidemia de febre amarela urbana.

O que não quer dizer que boa parte do Brasil não seja considerada uma zona de risco – e, portanto, passível de vacinação. A extensão territorial do nossos país é significativamente coberta por mata ou está próxima delas. Aqui, você pode ver quais cidades são consideradas áreas de risco e exigem a vacina, salvo contraindicações (como o uso de certos tratamentos para o câncer).

Vacina da febre amarela em crianças: restrições e quem deve tomar

Alguns cuidados adicionais precisam ser considerados na infância antes de optar pela vacinação contra essa doença

A febre amarela pode ameaçar especialmente as crianças, que estão com o sistema imunológico ainda imaturo. Só que a vacina nessa faixa etária envolve algumas medidas e restrições – que foram abordadas em detalhe num novo documento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Pra começo de conversa, o texto reforça um ponto crucial: antes dos 6 meses de idade, nenhum bebê deve ser imunizado contra a febre amarela. Entre os 6 e os 9 meses, a injeção só é autorizada com a anuência de um médico e se realmente houver necessidade (se o pequeno, por exemplo, vive em uma área de alto risco de transmissão da infecção).

Além disso, os experts da SBP pedem atenção com a possível interação entre a vacina contra essa doença e outras que são tipicamente administradas na infância. Mais especificamente, o ideal é não oferecer o imunizante da febre amarela simultaneamente com a tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) ou com a tetra viral (sarampo, rubéola, caxumba e varicela) em pequenos com menos de 2 anos.

“Para crianças que não receberam nenhuma dessas vacinas, a orientação é que tomem a dose da febre amarela e agendem a tríplice viral ou a tetra viral para pelo menos 30 dias depois”, explica o médico Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações SBP, em um comunicado à imprensa. “As demais vacinas do calendário podem ser administradas no mesmo dia que a da febre amarela”, tranquiliza.

Outra coisa: como nos adultos, crianças e adolescentes com forte alergia ao ovo só podem receber a injeção após avaliação médica criteriosa e dentro de um ambiente com condições de atendimento de emergência. São particularidades que, no fim das contas, exigem uma conversa com o pediatra.

De maneira geral, a vacina é bem tolerada. Febre, dor de cabeça ou muscular, entre outros sintomas, acometem de 2 a 5% de quem a toma. Aquelas reações adversas graves só acontecem, de acordo com a SBP, em uma a cada 250 mil doses aplicadas.

E a dose fracionada?

Segundo o documento da SBP, ela só deveria ser dada a crianças com mais de 2 anos de idade – essa é, de fato, a recomendação vigente nas campanhas de vacinação em andamento. Nas menores, preconiza-se a dose plena.

O motivo? Faltam pesquisas sólidas da vacina com dose fracionada especificamente com os pequenos menores de 2 anos.

Aliás, uma criança que vai viajar a um país que exija aquele certificado internacional de vacinação, precisa tomar a dose normal. Caso contrário, ela não vai conseguir entrar nessa nação.

As mães que estão amamentando

Destaque para as mulheres que estão amamentando os menores de 6 meses. Se elas viverem em áreas com transmissão da febre amarela e ainda não tiverem recebido a vacina, a SBP afirma que uma dose fracionada poderia ser administrada. Mas… o aleitamento materno precisará ser suspenso por dez dias após a imunização.

Agora, mulheres nessas situações que não vivem numa região dessas devem seguir sem a vacina. De novo, principalmente se o seu filho tem menos de 2 anos, ligue para o pediatra e veja qual caminho seguir.

COMO EVITAR A FEBRE AMARELA

Para evitar ser acometido pela febre amarela, a recomendação é não deixar os mosquitos que transmitem o vírus picá-lo, seja com repelente, seja vestindo roupas longas ou instalando telas. A vacinação, especialmente para quem vai a áreas de circulação dessa doença, também é fundamental.

A vacina

Após dez dias da aplicação, o imunizante oferece uma alta taxa de proteção contra o vírus da febre amarela. Não à toa, ele é preconizado a todas as pessoas que moram ou vão visitar uma área com risco de transmissão, desde que não possuam uma contraindicação. E veja: no Brasil, esses locais são muito mais comuns do que se imagina!

Basicamente, a vacina estimula o próprio organismo a produzir anticorpos que não deixam a febre amarela se instalar mesmo se o vírus entrar em contato com você. Assim, é realmente a forma mais segura de afastar o problema.

E mais: a OMS já garante que uma única dose da versão tradicional garante proteção pelo resto da vida. A versão fracionada oferece, segundo o Ministério da Saúde, ao menos oito anos de blindagem contra a infecção.

No entanto, como traz um risco mínimo de reações graves, a vacina não é recomendada a quem não possui qualquer chance de entrar em contato com os mosquitos que passam a doença. Hoje, a febre amarela está restrita a zonas próximas à mata, onde é disseminada pelos mosquitos Sabethes e Haemagogus. As campanhas com doses fracionadas estão sendo feitas, entre outras coisas, para impedir que o Aedes aegypti passe a carregar o vírus e infectar seres humanos em larga escala – seria a urbanização da enfermidade.

Repelente e afins

Os métodos que impedem o inseto infectado de picar seres humanos são ótimas opções, tanto em conjunto com a vacina quanto em situações onde ela não pode ser aplicada. Vale lembrar que, por exemplo, bebês com menos de seis meses e pessoas em tratamento com quimioterápicos ou imunossupressores não devem se vacinar – especialmente sem consultar um profissional.

Ao aplicar o repelente, é importante observar as instruções da embalagem para manter sua eficácia. Tenha atenção principalmente com relação ao tempo de aplicação. E um recado: o suor excessivo ou um banho de cachoeira removem parte do produto da pele. Aí é bom passar de novo.

Há ainda a possibilidade vestir roupas longas e de cor clara, sem serem muito chamativas. Em casa, também dá para instalar telas protetoras e mosquiteiros em cima dos berços.

E um último recado: embora a febre amarela não esteja urbanizada no Brasil, combater o Aedes aegypti é uma ótima maneira de diminuir ainda mais esse risco – e o de sofrer com outras doenças, como dengue, zika e chikungunya. Assim, acabe com quaisquer reservatórios de água parada nas redondezas. (Febre amarela: Tire as principais dúvidas sobre a doença)